PATRIMÓNIO DOS POBRES
Vê-se pela mensagem do Papa Francisco que Ele pouco ou nada conhece do Padre Américo, o qual demonstrou pelos seus escritos, a sua Vida e Obra que esta pobreza não é um paradoxo; " (...) que hoje como no passado é difícil aceitar que a Pobreza é um paradoxo porque embate na lógica humana, mas também há uma Pobreza que nos torna ricos." Toda a gente sabe e devia conhecer que há uma pobreza que mata a que o Papa chama Miséria; "Filha da injustiça, da exploração, da violência e da iníqua distribuição dos recursos. É a pobreza desesperada, sem futuro imposta pela cultura do descarte."
A pobre estava hoje à minha espera na porta da Capela. Não se tinha anunciado, mas viu-me a celebrar e esperou. Boa apresentação, nada menos que qualquer senhora, mas por dentro uma miséria desesperada.
O descarte foi a sua ruína! O marido abandonou-a com quatro filhos, agora, já mais crescidos, mas sem relações com a mãe por ela ter arranjado outro homem, o qual a maltratava a ponto de a ameaçar de morte. Fugiu de Lisboa para Setúbal em busca de um refúgio onde ninguém a conhecesse. Vai buscar comida a uma associação.
Apareceu-me então com uma doença cancerosa na garganta, tirando um relatório médico e as TAC's. Eu não percebo nada de linguagem medicinal.
Afligia-a a renda da casa, 250€. Não deve ser grande coisa ou grande casa! É a cultura do descarte. As pessoas só valem enquanto dão lucro e conforto. Quando esses acabam, ficam sozinhas e isto repete-se continuamente e em larga escala.
Esta é a pobreza que humilha e mata. A incapacidade de enfrentar a força da Miséria sem alternativas, por causa do medo. As pessoas sentem-se obrigadas a aceitar condições miseráveis sem saída. Ao contrário, continua o Santo Padre, "A pobreza libertadora é aquela que nasce de uma opção responsável e nos obriga a tirar do nosso pecúlio quanto há de supérfluo contentando-nos com o essencial."
De facto, há gente que nunca se satisfaz com a riqueza que tem, embora volumosa. Vivem inquietos sem se satisfazerem, cito o Papa Francisco; "(...) ansiosos e extraviados sem rumo. Esta gente precisa de ser encaminhada para os humildes, os frágeis e os pobres. Encontrar pobres permite curar as ansiedades e medos inconsistentes para chegarem àquilo que importa: o amor verdadeiro e gratuito. Os pobres antes de serem objecto da nossa esmola são pessoas que nos ajudam a libertar da inquietação e da superficialidade." E termina o Papa, citando São João Crisóstomo em cujos escritos se encontram fortes denúncias contra o comportamento dos cristãos para com os mais pobres. Escreve, "Se não consegues acreditar que a pobreza é capaz de te tornar mais rico, pensa no teu Salvador e deixa de duvidar quanto a isso. Se Ele não tivesse sido pobre tu não serias rico. Trata-se de algo extraordinário: que da pobreza tenha derivado riqueza abundante. Aqui Paulo entende por riquezas o conhecimento da Piedade, da purificação, dos pecados, a justiça, a santificação e milhares de outras coisas boas que nos foram dadas agora e para sempre. Tudo isto temos, graças à pobreza." (Homilia - II Carta Cor 17,1)
Quem lê com atenção e alma aberta esta mensagem do nosso Santo Padre é impossível que não abra o coração. O dia Mundial dos Pobres foi instituído por Ele para pôr a Igreja no verdadeiro caminho do Evangelho. Fazer com que Ele seja acreditado neste mundo devassado pela injustiça e ganância dos homens.
O mundo tem a sua lógica, apontando sempre caminhos errados para cativar o Homem e o desviar daquilo que é a Vida.
Nos discursos de Jesus sobre o Reino dos Céus ou Reino de Deus, Ele voltando-se, para os seus discípulos, repete quase sempre o mesmo: se alguém quiser seguir-me renuncie a si mesmo, tome a sua Cruz e siga-me.
Segui-lo não é mais nem menos do que escolher a Pobreza e os pobres como seus companheiros de viagem neste mundo, para a Eternidade e o único para o Céu e a Salvação.
Se para nós ganhar tão grande prémio como é a Comunhão com Deus, na sua Luz por toda a Eternidade, vale bem a pena, passar pelas injustiças vivas nos abandonados, nos caídos, nos que vivem sem saída para nos convencer e arrastar pelo seu exemplo.
Finalmente, citando o Papa Francisco, "Oxalá o Dia Mundial dos Pobres se torne uma oportunidade de Graça para fazermos um exame de consciência pessoal e comunitário interrogando-nos se a pobreza de Jesus Cristo é a nossa fiel companheira."
Padre Acílio