PATRIMÓNIO DOS POBRES
O Nosso Santo Padre Papa Francisco aparece-nos na sua exortação para o Dia Mundial dos Pobres com uma palavra pouco popular chamando ao Espírito Evangélico de Pobreza, um paradoxo.
Eu percebi logo o que Francisco queria dizer com esta expressão «Paradoxo» e fui procurar ao dicionário saber o que dizia esta palavra e encontrei o seu significado: paradoxo é uma opinião contrária ao sentido comum; uma coisa incrível.
Vamos ler o Santo Evangelho e em todas as passagens em que Jesus fala deste tema, ele de facto parece sempre uma coisa incrível; - contrária ao sentido comum dos Homens.
São muitos os pobres e até miseráveis, possuídos do Espírito de rico, deixando-se levar pela ganância e possuir por um desejo desmedido de abastança, ostentação, e facilmente se inclinam para o roubo, a droga, a vigarice e até a opulência.
Se formos analisar os ricos, encontramos muito poucos com Espírito de pobre. A maioria é arrastada pela mesma força que provém da aparência, do luxo, da abastança, do roubo, da aldrabice, dos negócios fraudulentos e até da exploração dos mais pobres, ignorantes e menos dotados.
Defender e amar os pobres é realmente um paradoxo mesmo para muitos homens e mulheres da Igreja Católica, de seitas Cristãs e outras religiões monoteístas como os Muçulmanos e os Judeus.
Hoje, nesta Aldeia Global onde vivemos, as guerras não têm outra explicação, apenas o furioso desejo do poder, da grandeza e do dinheiro. Mesmo que um rico possua milhões de triliões, continua a ser devorado pelo desejo ardente de mais e mais. Nada o satisfaz. Vivem cegos, a pensar que a vida neste Mundo nunca acabará para eles.
Existe, porém, uma pequena, muito pequena minoria de homens e mulheres rica e pobre que acreditam na Providência Divina, se deixam apaixonar por Jesus Cristo - O Pobre dos pobres. Amam a pobreza e põe a sua vida e os seus bens ao serviço dos mais carentes.
Não é preciso que dêem tudo o que têm, mas, pelo menos, o que lhes sobra.
Há dias, numa viagem ao Norte, parei numa das estações de serviço e observei um luxuoso iate em cima de um gigantesco camião que o transportava acompanhado de uma carrinha com várias luzes no tejadilho para evidenciar o trânsito do enorme camião que seguia. E pensei comigo dizendo para os meus botões: «Olha aqui vai um valor muito maior do que uma casa para um pobre.» Naturalmente o seu dono é capaz de não ter só uma casa, nem só um luxuoso automóvel, nem este iate seja o primeiro da sua vida, ou da sua família...
Um amigo encontrou-me no cemitério após um funeral e ao cumprimentar-me disse-me com entusiasmo: «Venha ver o jazigo que aqui estou a construir.» Era uma pequena capela em mármore com as devidas prateleiras para os caixões e uns adornos feitos da mesma pedra com a porta de ferro forjado e artísticos desenhos.
Será que o desejo do meu amigo em fazer figura social, ainda irá para além da morte? De que adianta repousar num caixão enterrado ou exposto no jazigo? Que interesse tem isso para a pessoa morta?
Eu andava aflito para comprar uma casa a uma família pobre e (cobardemente talvez?) não lhe falei do seu engano.
No momento em que escrevo recebo o telefonema de uma mãe abandonada com três filhos a pedir o pagamento da renda da casa. «Terei de ir ver.» «Já me ajudou»; diz ela. Por já ter sido algumas vezes enganado e pelo telefone, só me comprometo com pessoas credíveis: alguns pobres, alguns padres e também alguns cristãos, sobretudo os vicentinos.
Os Salmos, que nós os Sacerdotes rezamos diariamente estão cheios de exortações à pobreza, como também de elogios aos que repartem os seus bens pelos pobres.
Tenho mesmo a impressão que todos os dias a Oração que Deus põe na boca dos seus Sacerdotes, fala do amor à pobreza e aos pobres.
A primeira das Bem-aventuranças é clara: Felizes os que têm o Espírito de Pobre porque é deles o Reino dos Céus. Jesus fala da dificuldade deste paradoxo: é mais fácil passar uma corda grossa (um camelo) pelo furo de uma agulha de coser, do que um rico, entrar e perceber a Filosofia do seu Reino.
Quantas vezes terá repetido nas suas pregações pelas Sinagogas, pelas praias e campos a Parábola do rico que se banqueteava muitas vezes com os seus amigos e o pobre Lázaro ao seu portão, nem às migalhas e aos restos tinha direito para matar a fome e cujo alívio era o lamber das suas feridas pelos cães.
Quantas vezes rezamos nós os religiosos a oração de Nossa Senhora: «O Senhor fez em mim maravilhas, aos pobres encheu de bens e aos ricos despediu de mãos vazias!...»
Quantas vezes o Senhor disse que o filho do Homem não tem sequer onde reclinar a cabeça e recomendou aos Discípulos que não levassem para o caminho da sua pregação nem duas túnicas, nem dinheiro, mas que fossem portadores da PAZ! Quantas vezes? Quantas?
Feliz de vós os pobres porque é vosso o Reino de Deus. Lucas 6,20.
Padre Acílio