PATRIMÓNIO DOS POBRES
Está na berra política o problema da habitação das famílias portuguesas e de todas as outras, que por variadíssimas razões, se estabeleceram em Portugal.
É evidente que cada família necessita de uma habitação para viver com dignidade. Ninguém nega esta natural realidade. O Património grita desde o seu princípio.
O padre Américo que viveu esta aflição, dos pobres e enjeitados, como ninguém, fez das tripas coração para mostrar que era possível, proporcionar a cada agregado familiar uma casa. Arrancava do fundo do seu coração, este grito que toda a gente percebeu: se o passarinho precisa de um ninho, o rato de uma toca para se acolher, um crustáceo de uma concha para se defender, muito mais o ser humano precise de uma casa para viver, conviver e se abrigar.
Um país só é seguro quando todas as famílias tiverem uma casa e os seus chefes forem obrigados a trabalhar, e educados por esta lei fundamental: quem não trabalha não coma.
Se as crianças ao chegarem à adolescência não tiverem em casa, quem puxe por elas, ou nas escolas quem as convença e obrigue a aproveitar as aulas, não saímos da cepa torta.
Após o 25 de Abril, muitas cidades foram aumentadas com bairros sociais. Alguns com êxito, onde houve acompanhamento e uma fiscalização constante e concreta. Outros abandonados à miserável educação dos seus ocupantes, transformaram-se em antros de álcool, droga, prostituição e miséria: janelas partidas, portas arrancadas, louças sanitárias estragadas. Uma enxovia repelente que em vez de ajudar as crianças e os jovens, ainda os atiram mais para a miséria, desleixo e toda a espécie de atraso. Estagnação social ou ainda recuo de civilização e humanidade. No meio de tudo isto, muita gente se salvou, atingindo o nível humano, razoável e construtivo.
Chegámos agora a uma fase habitacional terrível, para quem casou e teve de alugar um sítio para viver. Assim é mais fácil aos cidadãos, serem tentados a buscar meios ilícitos para se governarem.
Diz o nosso povo que não se fazem omeletes sem ovos, isto é, não se pode estar à espera de qualquer acontecimento que resolva o problema, e não é adiar a solução, mas encará-la de frente.
Não se faça política com a habitação, com jogos financeiros irrealistas. Fez-se uma cidade para o futebol e houve dinheiro que chegasse. Está a surgir outra no Norte do país. Pensa-se no TGV apregoando-se que há dinheiro para isso e não se encara a habitação, como a prioridade das prioridades.
Claro, que a iniciativa privada faz alguma coisa tornando-se uma fonte de rendimento para o Estado e autarquias, sendo as rendas outro manancial.
Não sou eu quem se atreve a gizar um problema desta dimensão por não estar dentro dos meandros da política nem dos partidos, mas sinto que seria necessária uma mobilização de todas as forças, desde as Juntas de Freguesias aos Concelhos, impulsionada por um governo que ponha de parte os interesses partidários.
Alguém que seja capaz de mobilizar todas as forças vivas, desde as igrejas nas várias confissões até às sociedades mais variadas. Todos ligados ao mesmo ideal e só por ele, com o governo à frente a lutar pelo dinheiro e não pelos votos e popularidade.
Começar pelas casas abandonadas das cidades, a cair, num espectáculo degradante e triste. Algumas só se vê restos e telhados e vigas de maneira apodrecida, oferecendo aos passantes, o terror do desleixo. Há prédios com um único piso, com cantos de pedra trabalhada, telhado abatido com ervas verdes na Primavera e secas no Verão. Há casas com aspecto decorativo, em azulejos antigos, aros em pedra redonda, espelhando em riqueza e esplendor dos seus antigos donos.
Primeiro estas, para recuperar a cidade aos cidadãos e logo que haja estruturas para construir, reedifiquem-se e planeiem-se outras. Nunca se levantem edifícios para ricos e para pobres. Estas habitações devem possuir as mesmas características, para não se chegar á lógica dos bairros e se venham a criar neles escolas de miséria humana.
No centro do país, um conjunto de freguesias resolveram dar habitação às pessoas mais pobres e juntaram no bairro, toda a gente tornando-se ele, um foco de desgraça.
Que se evite quanto possível, os erros do passado, embora seja mais caro, que se faça o que agora os sociólogos e políticos chamam de inclusão social a começar pelas casas.
Padre Acílio