PATRIMÓNIO DOS POBRES
Mensagem do Papa Francisco para o sétimo Dia Mundial dos Pobres dirige-se a toda a humanidade, mas muito especialmente às comunidades cristãs.
Tenho muita pena que não seja divulgada com abundância, como seria natural, em todas as celebrações deste domingo.
Como figura principal a imitar, é exemplo admirável Tobite, do Livro de Tobias.
Tobite, um homem sábio, isto é, cheio de sabedoria (não confundir sabedoria com ciência), pois há homens sábios analfabetos.
Esta é a figura de um homem abastado que distribui os seus bens pelos pobres, sobretudo com os infelizes que, como ele, foram deportados para Ninive.
Faz referência a gestos concretos que consistem mais na prática das boas obras e no viver com justiça. E recomenda a seu filho, numa despedida para uma viagem longa e perigosa, que nunca afaste de algum pobre o seu olhar e confie que nunca se afastará dele os olhos de Deus.
Refere o Santo Padre, pelo livro citado, que Tobite perdeu a vista numa altura em que se levantou da mesa, antes de comer, e foi enterrar um concidadão cujo corpo jazia a apodrecer, encostado a uma parede. Dava muitas esmolas aos seus irmãos, sobretudo aos da sua nação que, como ele, sofriam o exílio na terra dos assírios, fornecendo pão aos esfomeados, vestindo os nús, e por causa destes gestos, foi, pelo rei, privado de todos os seus bens. Ao filho Tobias, que parte para uma viagem, ele recomenda, com pouca esperança de o tornar a ver, o seguinte: "Nunca afastes de algum pobre o teu olhar".
"… Como bom pai", diz o Papa, "… deseja deixar ao filho não tanto bens materiais, mas, sobretudo, o testemunho do caminho que há-de seguir na vida. Por isso, diz-lhe: lembra-te sempre, filho, do Senhor Nosso Deus em todos os dias da tua vida. Evita o pecado e observa os seus Mandamentos. Pratica a Justiça em todos os dias da tua vida e não andes pelos caminhos da injustiça."
A cegueira de Tobite transformou-se em força para reconhecer inúmeras formas de pobreza. É verdade que os pobres ajudam mais outros pobres do que os ricos os seus infelizes irmãos.
Tobite, pobre e cego, não pára nas suas boas acções. Sofre com os que amargam as mesmas penúrias e, com tal força e sabedoria, que o rei, ouvindo o que se passava com este homem bom, o chama para administrador do seu reino, dando-lhe assim mais capacidades de ajudar os seus irmãos cativos.
É fiel à Lei de Deus e observa os Mandamentos, mas isso não chega. A solicitude para com os pobres tornou-lhe possível experimentar a própria pobreza.
Quantos são os homens, na história da nossa Fé, que fizeram o mesmo: tornaram-se pobres e pobres, de facto, para poderem estar completamente ao lado deles, sofrer com eles as exigências da pobreza na alimentação, no vestuário, nas viagens, na habitação e na doença. E, tantas vezes, no desprezo dos ricos que, iludidos pela vida que levam, pela ilusão da sua falsa grandeza e na abundância dos próprios bens.
Chama-lhes o Papa: "…o volume sonoro do bem-estar é cada vez mais alto em seus corações, enquanto se põe no silencioso cada vez mais mudo no seu íntimo, as vozes de quem vive na pobreza."
Colocam-se num parênteses, entre aquilo que é desagradável e causa de sofrimento, e os pobres tornam-se as imagens que até os podem comover por algum tempo, mas quando os encontram em carne e osso, sobrevem-lhes o fastidio e a marginalização.
A pressa, companheira da vida diária, impede de reparar e socorrer o outro. "A parábola do Bom Samaritano não é uma história do passado. Desafia o presente e cada um de nós." E o Santo Padre continua: "Delegar a outros é fácil, oferecer dinheiro para que outros pratiquem a caridade é um gesto generoso, envolver-se pessoalmente é vocação de todos os cristãos."
O Papa termina citando-se a si próprio na encíclica Alegria do Evangelho: "Somos chamados a descobrir Cristo nos pobres. Não só a escutar a sua voz, a tomar parte nas suas causas, mas também a ser seus amigos, escutá-los, compreendê-los e a acolher a misteriosa sabedoria que Deus nos quer comunicar através das boas obras."
Padre Acílio