PATRIMÓNIO DOS POBRES
Neste tempo Natalício é bom lembrar a oração que o Breviário põe na boca, e devia pôr no coração dos sacerdotes e de todas e de todos os que rezam, a leitura das horas, saboreando cada uma das frases: Jesus Pai dos pobres; Glória dos Fiéis; Bom Pastor; Luz Verdadeira; Sabedoria Infinita; Bondade imensa; Caminho de Verdade e Vida dos Homens; Fortalecei na vossa Igreja o Espírito da Pobreza Evangélica.
Este é o desejo de Deus, o Dom do Natal, só é apreciado por quem Ama os Pobres, se dói deles, recusa as injustiças, denuncia as conjunturas da pobreza e põe a claro, casos das circunstâncias dos mais infelizes.
O ambiente laico centrado na festa do Natal é quase tudo, menos a ambição do Menino.
Ora vejamos!... Uma mãe de família abandonada pelo progenitor dos filhos, no aperto das suas carências é tentada a ligar a energia eléctrica da humilde casinha onde se abriga, sem passar pelo contador. É apanhada e a empresa fornecedora multa-a, põe o caso em tribunal e ela é obrigada a pagar à lesada 750.00€ mais os custos da justiça, ao todo 900,00€.
Eu vi, com os meus olhos o despacho do tribunal.
A pobrezinha telefonou-me várias vezes e, por esta via a minha resposta é quase sempre:
— Se é para me pedir ajuda eu não posso.
— Não, não é! Só quero falar consigo e desabafar.
Normalmente atendo os pobres à porta da igreja onde celebro quase diariamente a Santa Missa.
A mulher aparece-me, puxa pelo papel e dá-mo a ler. Era a sentença:" (...) ou paga dentro do prazo ou vai pagar na prisão."
Que havia eu de fazer? Senão chorar com ela e aliviá-la daquele pesadelo brutal que lhe caiu em cima.
Nos finais de cada ano a respectiva empresa apresenta, nas redes sociais, os seus lucros. Eles são milhões. Não haveria outra forma de castigar a pobre sem ser com multa e ameaça de prisão se não cumprisse a sentença?!... Como por exemplo, privá-la um mês ou mais sem luz com vigilância. Não! É logo multa!... Onde é que os pobres têm dinheiro para pagar penas destas? Se como se diz, à boca cheia, por todos os media sociais que há Homens ilustres e lustrados, sugadores do país, aos milhões sem conta, a passearem-se por aí de fato bem cheiroso, e agasalhadinho, de gravata, transportados em grandes e faustosos automóveis, quase como reis do universo.
A defesa realizada pelos bons e sabidos advogados, fazem a respectiva corte, transportando-nos a um mundo irreal que não é o da instintiva justiça que os portugueses, desejariam contemplar.
Outro é o caso de uma senhora que, aflita, veio ter comigo a pedir ajuda, como o progenitor dos filhos que a abandonou e saiu do país para onde não se sabe, contraiu com ela uma dívida de 13.000,00€ e tal euros. A autoridade veio para cima dela, arrestando a casa onde vive com os filhos e a mãe de 90 anos, carregada de adiantado Parkinson.
Li o documento que me apresentava e achei não ser justo, uma vez que o débito não era só dela, mas também do malicioso procriador dos filhos. Mandei-a para um advogado consciencioso, segundo a Lei aliviou-a exigindo apenas que ela pagasse 3.000.00€ mais 75.00€ ao fim de cada mês, acabando com o arresto do seu andar situado num bairro chique da cidade.
Como eu precisava de advogados e especialistas em saúde!... Como desejava ter à disposição dos pobres e ignorantes um grupo de pessoas que, por amor a Deus se dispusessem a guiar e a defender os mais infelizes.
Sei perfeitamente que a vida é pesada para todos... mais para uns do que para outros, mas mesmo assim, há formas de vida que também nos dão gozo e prazer, mais ainda, quando nos dedicamos aos mais caídos. Temos sempre a confortável força de Deus.
Não posso mandar todos os necessitados só para um advogado, dentista, oftalmologista, etc. Em todos os ramos das necessidades humanas eu precisava de ajuda.
É Natal! É tempo de abrirmos horizontes à vida social, sobretudo aos mais caídos, em nome Daquele Menino que amanhã nos há-de compensar, como ninguém.
Vinde Benditos de Meu Pai.
Fico-me por aqui.
padre.acilio@gmail.com
Padre Acílio