PATRIMÓNIO DOS POBRES

A crise nos hospitais públicos recaem de forma mais pesada sobre os pobres. Os ricos e poderosos não precisam destes apoios para nada: têm boas condições nos particulares. Os pobres não têm nem dinheiro nem influências, nem nada!... Há que sofrer, aguentar e talvez até morrer.

Nos últimos meses passaram por mim situações dramáticas, as quais o Património dos pobres tentou resolver e eu sinto-me obrigado a dar a conhecer aos amigos deste.

Não foi só o caso daquele menino que teve de emigrar com a sua mãe e irmã, ainda criança, para o único hospital do mundo, recomendado pelo hospital pediátrico Dona Estefânia, onde poderia ser operado ao coração. As viagens, a estadia, as três cirurgias foram caríssimas. Apesar de já ter arranjado trabalho a mãe caiu cancerosa dos dois peitos e foi sujeita a várias cirurgias, à nossa custa e algumas pequenas ajudas, que os bons corações de gente anónima nos Estados Unidos lhe têm fornecido.

Quando o Património pega num Caso não o larga, até que tenha pernas para ir adiante, sempre melhor.

Por amor, atende à desgraça, mas nunca fica por aí. Se a extrema pobreza não tem remédio, o Património não ajuda preguiçosos, nem malandros nem aldrabões.

A pobreza pode vir da doença, da ignorância ou de outras fontes irresponsáveis. Aqui sim, o Património ajuda quanto pode, pedindo às vítimas que recorram à Segurança Social.

A Verónica foi abandonada com dois filhos, ainda crianças. O progenitor fugiu com outra mulher e deixou-lhe a casa vazia. O Património pagou-lhe as rendas de casa durante um ano, e agora, sentindo-se doente, foi ao hospital público e mandaram-na para um particular em Lisboa. Para ser operada tivemos que nos apresentar com 5.000,00€, senão adiar-se-ia a intervenção cirúrgica, pois ela estava cancerosa nos dois pulmões e há muito teria morrido. Pagámos todas as despesas hospitalares, até ela ser transferida para uma clínica especializada, onde ainda se encontra, na qual foi sujeita a outra cirurgia, onde lhe extraíram um rim. As estadias, intervenções cirúrgicas, todas pagas pelo Património.

Eu penso que todos estes trâmites por que ela passou, deviam ser encargo do primeiro hospital público, onde foi consultada, pois assim o nosso procedimento está a beneficiar o Estado, que atira os doentes para os particulares, e neste caso, para os pobres, e suas responsabilidades.

Se há um Serviço Nacional de Saúde (SNS), então ele que funcione, sobretudo para os pobres. Se a cirurgia é urgente, o tal serviço que a execute ou pague a quem o possa realizar, na urgência necessária para o doente. Pôr em espera uma pessoa por não haver cirurgiões da especialidade, é muito grave para o paciente, e se for uma criança, como aconteceu, com um menino a sofrer de uma hérnia inguinal, cheio de dores, a resposta do hospital foi negativa: — não tinha cirurgião!

A mãe veio desesperada ter comigo, implorando se podia levar o seu filho ao hospital onde trabalha, claro, no hospital particular!... E foi. Quem pagou? — O Património. E oito dias depois, a criança sorria de alívio.

Hoje, foi a própria mãe deste petiz que tem sido uma heroína, a lutar por uma vida capaz de promover os filhos e dar-lhes um nível humano razoável. Trabalha no hospital particular e à noite vai para o Politécnico, onde pretende tirar o curso de enfermagem e, me vai dando conta das suas conquistas.

Num exame académico feito há quinze dias, apanhou 19,5 valores e num estágio académico, o melhor do país, a semana passada, classificou-se com 20 valores. Telefonou-me a chorar por ter feito um exame médico de rotina, e detectaram-lhe um quisto nos ovários. Ela já fora operada, duas vezes a este mal. A sua mãe morreu com 33 anos, com esta doença e deixou-a com 2 anos de idade. Precisava de uma intervenção cirúrgica imediata. No hospital público, informaram-na que só teriam vaga para Setembro, Outubro. O que havia ela de fazer? — Sim! Como remediar o seu mal? Se era urgente ser intervencionada e os médicos a haviam informado que o quisto removido teria de ser analisado num laboratório estrangeiro. Como ficou ela com a informação do hospital público? Qualquer um de nós temeria ouvir notícias destas: — Não chores! Estamos a teu lado e … no mesmo dia lhe telefonaram às 14h00 do hospital, onde ela trabalha a perguntar se já tinha almoçado; se não, que fosse já para o hospital para ser operada. À hora que hoje escrevo, ela está a ser assistida. A operação custou 2.800.00€, preço reduzido por ser no hospital, onde trabalha e tem bom nome.

Bendiz Ó minha Alma o Senhor, e todo o meu Ser bendiga o seu Santo Nome.

Apetece-me dizer como o Salmista: E não esqueças nenhum dos seus benefícios!

Padre Acílio