PATRIMÓNIO DOS POBRES
A situação política que vivemos, com a incapacidade do Serviço Nacional de Saúde (SNS) tem sido uma desgraça, e não me admiro que muita gente tenha morrido à míngua, com falência de tantos serviços em muitos hospitais.
Tem valido a alguns o Património dos Pobres, o qual tem salvado da morte ou da incapacidade física, muitas abandonadas.
Uma delas pediu-me para ser operada em hospital particular, por ter caído de joelhos na escada de sua casa e partido a rótula do esquerdo. Como o hospital público não a pôde atender, com a urgência das dores e necessidade , recorreu ao particular, mas o serviço não foi completo. A articulação ficou defeituosa e muito inchada, quase parecia uma bola de futebol. Isto vi eu com os meus olhos, do corpo e da alma.
Recorreu ao público e … nada; " (…) se foi operada no particular, volte lá."
Ela já tinha recorrido em vão àquele serviço público e não a tinham socorrido. Agora mandam-na de novo para o privado.
Já da primeira vez, andou a pedir às amigas e amigos e conseguiu, com a comparticipação do Património, 6.000,00€ para pagar a intervenção cirúrgica. Neste momento, com o joelho assim inflamado, recorreu somente a mim. Diante daquela bola, horrível,como reagir? – Se não dar o que era possível: 1.500,00€.
Outra abandonada, a viver num quarto com a filha de 2 anos e perseguida pelas embaixatrizes do Estado, com a ameaça de lhe tirarem a menina, o único apoio afectivo dela, fez rapidamente, a conselho daquelas, análises num laboratório particular que o Património pagou por 500,00€, e detectaram-lhe quistos rebentados a espalharem-se pelo corpo todo, ainda sem chegarem aos pulmões e ao coração, o que seria a sua morte.
Foi ao público de Setúbal, enviaram-na para o Barreiro, daqui despacharam-na para Lisboa e não havendo na capital socorro, remeteram-na cheia de dores para casa. Que havia ela de fazer? Senão chorar e pedir que a livrassem da morte.
O Património que lhe havia dado a mão com o pagamento de dois meses de renda de casa, e sem dinheiro, a deixou ir para a rua, onde dormiu com a filha uma noite. Seguida de um quarto, fiscalizado pelas Assistentes Sociais, que em vez de lhe proporcionar uma casa, ameaçavam-na, sabendo da dificuldade do arrendamento, a casa tinha de ter dois quartos!...
Ela sem trabalho, doente, sem nenhum amparo de família, sem ninguém, como poderia alugar uma casa com esta dimensão? Isto é quase um holocausto psicológico, a que os sem nada estão sujeitos.
Enquanto no meu carro, transportava a infeliz e ela atendia a chamada telefónica das referidas senhoras, eu refilei alto e bom som: - Vocês estão a tratar fulana como uma cadela. Nem os animais são cuidados desta forma. Se vêm em nome do Estado, não têm autoridade nenhuma porque o Estado, segundo a Constituição é obrigado a facultar uma casa digna para cada família portuguesa.
Elas segundo o relato da pobre, amansaram começando a tratá-la de forma mais humana daqui em diante.
Mas vamos à sua saúde. Após aquela noite terrível em que andou de ambulância sem qualquer resposta, sabendo que iria morrer se não fosse operada, que faria eu, senão pôr-lhe o dinheiro à frente e socorrê-la.
O Património pagou-lhe um seguro de Vida por 120.00€ e a intervenção cirúrgica 7.500,00€. Ela com 21 anos era condenada a morrer se não fosse a ajuda de Deus. Foi operada esta manhã e já me telefonou duas vezes e pareceu-me ouvir a voz de Jesus Ressuscitado, cheio de dores mas já livre de morte imediata.
Outra mãe de duas crianças a quem o Património adoptou como filha, dando-lhe uma casa, foi operada três vezes ao mesmo problema e sempre no privado, à nossa conta. Segundo análises feitas no estrangeiro, os seus quistos eram hereditários. A sua mãe faleceu com 33 anos deixando-a com dois. Está agora fazendo um tratamento pago pelo Património no valor de 2.800,00€ com 90% de resultado positivo.
O Homem é como sombra que passa, diz o Salmista, é em vão que se agita e amontoa riquezas sem saber para quem, enquanto os pobres morrem à míngua. Não omitas a tua esmola.
Padre Acílio