
PATRIMÓNIO DOS POBRES
Ainda o problema dos Sem Casa. É evidente que ninguém pode viver na rua. Até os próprios cãezinhos precisam de agasalho para dormirem. A rua é para as árvores e animais ferozes que a natureza dotou de protecção própria. A casa é para o Homem, uma necessidade inerente à sua natureza. Sem ela ninguém vive.
O problema da habitação envolve toda a humanidade e mais ainda nos países frios ou com épocas de baixa temperatura e chuva.
Esta realidade foi bem presente à Assembleia Constituinte, nascida do 25 de Abril de 1974, pelo que sabemos, está bem longe de se concretizar. A falta de casa não é motivo para ninguém ser castigado, mais ainda, quando se é pobre e se vive dependente do trabalho. E se for doente muito menos!...
Por estas e outras razões, muitas famílias carentes se juntam numa habitação única, para se puderem defender e descansar o mínimo possível, adquirindo assim forças para o trabalho e sobrevivência.
Nas circunstâncias actuais ninguém pode ser obrigado a ter uma casa, muito menos quem é uma pessoa desvalida.
Se os servidores do Estado e os seus orientadores, pelos governos, deixaram o país nesta situação, criaram precedentes que os impedem de obrigar alguém a ter uma habitação com tais compartimentos. Cada um governa-se como pode! Já que o Estado não faz uma cirurgia urgente em certas especialidades e deixou cair o país mais pobre, numa situação aflitiva, não pode impor qualquer regra sobre o uso da habitabilidade, pois ninguém é obrigada ao impossível.
Essas embaixadoras dos governos que além de se meterem na vida privada dos pobres, só porque são pobres, abusam de poderes que só a letra da Lei lhes confere. A Lei mata como diz São Paulo, aqui, a letra oprime. É que se viessem com algum auxílio, justificar-se-ia a sua presença, mas não, o seu desejo é apenas caçar uma menina, talvez para um casal que lhes unta os beiços.
Se a criança estivesse em perigo, fosse mal tratada ou a mãe não lhe proporcionasse todo o bem-estar, com uma boa alimentação e creche de excelência, todos os cuidados de higiene e de saúde poderia justificar-se esta devassidão oficial.
Nada disto se verifica, apenas obrigação de arranjar uma casa com dois quartos, um para a mãe e outro para a criança, como se a menina que passa o dia na creche não chegasse a casa ansiosa pelo carinho e ternura maternal e a mãe que regressa do trabalho com o sentido profundo de se agarrar à sua menina.
Como se fosse possível alugar uma casa destas exigências, na actualidade, com o ordenado que a mãe vai auferir? Não é justo! E o que não é justo não se deve exigir a ninguém. Seria por essa razão que as ditas senhoras recomendavam à inconsolável mãe que não pusesse um advogado para a defender? Aflita e sem me consultar, procurou um advogado, e veio pedir-me 750,00€ para lhe pagar.
Com as eleições, virámos mais uma página histórica do país.
Deus queira que os Poderes constituídos se abram mais à Justiça, para que não sejam só os pobres, os perseguidos e enclausurados, mas todos os que praticam a injustiça: — ricos, ministros e poderosos.
Que os sem casa, estejam na mira do primeiro olhar dos responsáveis e se acabe de vez com os aglomerados de famílias a viver na mesma habitação e se reduza o custo das casas.
Que não se caia numa política de caça ao voto, mas de um trabalho pelo bem comum dos cidadãos e se acredite na profecia do Salmista: como a terra faz brotar os germines e os jardins as sementes, assim o Senhor Deus fará brotar a Justiça.
Por Amor de Sião não me hei-de calar e por causa de Jerusalém não terei repouso, enquanto a sua Justiça não despontar como a Aurora.
O Senhor revestiu-me de Salvação e de Justiça. Ajudai-nos amigo, a evitar o supérfluo para podermos também socorrer os nossos irmãos necessitados.
Padre Acílio