PATRIMÓNIO DOS POBRES

Num destes dias vi-me aflito, sem dinheiro para dar a uma jovem mãe, desvalida, a quem já tinha pago, duas operações a quistos nos ovários e com necessidades de fazer um tratamento que no hospital particular, onde fez as cirurgias, custava 2.000,00€, e ela arranjou uma clínica, onde o preço do mesmo era menos de metade.

Eu não tinha qualquer valor para lhe dar. Ela foi pedir às Irmãs de Calcutá que lhe ofereceram 500,00€!...

Gostei! Gostei muito porque aquelas pobres Irmãs tiraram do que lhes dão, por impulso da Providência Divina e foram capazes de repartir com a torturada, esta quantia.

Quantas mulheres, por esse mundo além estariam aptas de um gesto desta grandeza? Mesmo cristãs? Mesmo religiosas e com votos de pobreza?!

Estas mulheres que negaram o Mundo e se revestem de branco, numa figura Apocalíptica, repartem sem fazer contas, sem medo do futuro, vivem o presente e se têm, dão, sem pensar que amanhã a fome ou a necessidade as pode arrasar.

Eu já sabia que as filhas de Teresa de Calcutá davam comida a quem as procuram com fome, mas ignorava que dessem dinheiro, que me fizessem uma saudável e Santa concorrência, num Amor sem medida aos pobres, aos aflitos, aos deficientes e a quantos carregam tantas vezes sozinhos, lacunas físicas, mentais, sociológicas, vendo nelas a figura e a presença física e mística de Jesus Sofredor encarnado em cada um deles.

Esta minha jovem e pobre mãe, após operada no mesmo hospital particular, primeiro por 5.500.00€ e segunda vez por 6.000,00€ tinha agora necessidade de, no mesmo sítio, fazer um tratamento que lhe custava 2.000,00€. Soube de uma clínica também privada em que o mesmo curativo era feito por 900,00€. Recorreu a mim que já lhe havia pago as duas cirurgias anteriores, mas a minha reserva naquele momento estava seca. Uma senhora de Coimbra, sabendo pelo Jornal desta secura, enviou-me 1.000,00€ e eu pude valer à referida doente.

Pessoas movidas pela Fé que não se contentam com a religiosidade e fazem dela uma nascente de Boas Obras, resumindo o que diz S. Tiago: A Fé sem Obras é morta. A força da Fé é o alimento do Património. As Obras são o reflexo da Fé.

Entretanto como estava dependente das esmolas do Património e não tinha com que continuar a responder, interromperam-lhe o tratamento. Passados dias mandaram-lhe a polícia à porta para lhe exigir a continuação do mesmo e a liquidação do restante que tinha sido acrescentado e rondava os 700,00€.

Não sei se não seria um abuso de poder da PSP. Penso que se fosse um rico ou poderoso a mesma entidade não se sentia tão pronta para fazer um trabalho destes. Como era sozinha e desvalida tornava-se mais fácil e mais desapercebido.

Os pobres estão sujeitos a tudo!

O Património grita por Justiça! Não ajuda preguiçosos nem malfeitores: apoia os caídos na injustiça dos homens.

Tem na sua frente Aquele que se fez pobre e pregou a Justiça, não a dos tribunais mas a que nasce de um coração puro e de uma Alma entregue e fiel a Deus, como nos lembra o Tempo Pascal, pela pena de S. Paulo na sua Carta aos Col. 3,1-2: Se ressuscitastes com Cristo, aspirai às coisas do Alto, onde Cristo se encontra sentado à direita de Deus. Afeiçoai-vos às coisas do Alto e não às da terra.

Há muitas formas de nos amoldarmos às coisas do Alto, mas as mais brilhantes aos olhos de Deus, são o cuidado e a dedicação aos mais pobres e doentes.

Padre Acílio