PATRIMÓNIO DOS POBRES
A situação dos pobres desvalidos é mesmo dramática!
Então, aquela desamparada e jovem mãe, de que falei no último jornal, não se vê confrontada com um telefonema das Finanças a informar que a sua casa ia ser penhorada?!
Tendo ficado a dever dois meses de renda da casa que habitou, mais uma consulta no hospital particular, assim que soube da promessa de compra e venda da casa, relatada no último GAIATO, veio, sobre a pobre, com esta ameaça: "se não pagasse a quantia, a que chamavam multa, até três dias, mudar-lhe-iam a fechadura da porta ou tampavam esta abertura com tijolo e cimento".
Prontamente, foi às Finanças e, diante da funcionária que a atendia, molhou-se em lágrimas e chorou, afirmando que "a casa ainda não estava paga e que o comprador tinha sido o Património dos Pobres", por meu intermédio, que não tinha dinheiro nenhum e se ficasse sem a sua casinha, as senhoras da Segurança Social lhe tirariam a filha, etc., etc.
Então, a chefe quis, por telefone, confirmar se eram verdadeiras as afirmações e lamentos da desgraçada. O meu telefone estava desligado naquele momento. Assim, adiou para o dia seguinte a chamada para o meu número, rogando a confirmação dos lamentos da pobre e se era verdade que lhe havia comprado a referida habitação. Naturalmente, confirmei a autenticidade da compra e do choro da pobre, apresentando uma proposta de repor nas Finanças já mil euros e o resto até ao fim de Julho.
Por esta narrativa, podemos avaliar o quão sofrem os pobres sem qualquer alternativa e amparo, a não ser quem se dói com eles.
Como a justiça distributiva em Portugal está longe de ser justa, pois os grandes são aliviados e os pobres escravizados! Estas ocorrências devem obrigar os responsáveis a abrir os olhos e a rever posições dos funcionários oficiais e entrar, a sério, no salvamento dos mais desprotegidos.
Os meios de comunicação social mostram-nos estes contrastes: os grandes passeiam e gozam à sombra inteligente e sabida dos seus advogados,os pobres, sem defesa, são verdadeiramente subjugados.
Aqui, também, deviam gritar as diversas igrejas que proclamam a igualdade dos filhos de Deus. O seu silêncio é cobardia e traição à fé cristã. Pai Américo diz isso com punhos de renda. Uma citação com pensamento transcrito no penúltimo número do nosso jornal, citando o "Pão dos Pobres", atingindo todos os que se fazem discípulos de Jesus: "Ai que se todos bebessem as coisas na sua origem (o Evangelho), haveria muito mais almas que saberiam compreender a miséria da gente pobre e, em vez de os apedrejar porque viciosos e ingratos, haveriam de os amar, arrependidos de terem feito tão pouco em favor deles!"
Padre Acílio
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