PATRIMÓNIO DOS POBRES
A convite de um padre amigo e devoto dos pobres fui às igrejas da Quarteira: Matriz; São Pedro do Mar e Vilamoura.
Levou-me um Gaiato da Casa de Malanje que veio para Portugal tratar-se de um forte AVC cuja cura em Angola não era para as suas posses. Esteve no nosso Calvário de Beire e foi medicado no Porto durante largos meses, acolhido paternalmente pelo Padre Telmo, recuperou quase toda a sua saúde. Agora trabalha numa empresa, cujo dono lhe empresta um dos seus bons carros para ele dar voltas com a família daquele, e me visitar amiudadas vezes, em busca de um auxílio para melhorar a sua carreira e valer às duas filhas que deixou naquele país.
Fomos num carro do seu patrão, um automóvel de caixa automática, seguro e veloz.
Só assim eu poderia ter ido ao Algarve, matar saudades dos 50 anos em que, no Verão falava nas igrejas ao fim de semana e regressava à noite, no Domingo, após ter pregado os Pobres e arranjado meios para a Casa do Gaiato de Setúbal, e para os irmãos desvalidos da cidade e arredores.
Tendo caído na casa de banho e no meu quarto, magoei a bacia nos dois lados, junto às próteses que me foram implantadas em várias cirurgias, e estava obrigado a total repouso e a resguardar-me o melhor que pudesse.
Para me acompanhar levei o meu andarilho e nele apoiado, falei da Palavra de Deus sobre o Pão da Vida, tema das leituras do dia.
Pus em relevo a réplica dos Judeus no Deserto, desanimadora e furiosa, contra Moisés e Aarão, tendo perdido a Esperança de chegar à Terra Prometida e morrerem à fome, e as multidões atrás de Jesus para Cafarnaum após a multiplicação dos pães — Vós procurais-me não porque acreditais na minha pregação mas porque enchestes a barriga com os pães e os peixes. O Senhor com tristeza replicou: trabalhai não pela comida que desaparece, mas pelo alimento que fica até à vida eterna e que o Filho do Homem vos dará.
Após várias intercalações entre Mestre e os Judeus, Jesus anunciou-se como Pão da Vida: O meu Pai é que vos dará o verdadeiro pão da vida. Aqui coloquei situações desesperadas, de gente pobre a lutar por dignidade e que o Património tem ajudado, a máscara do Apoio Social, como também o alheamento geral de muitos cristãos que se voltaram para as panelas de carne e o pão com fartura que o mundo lhes oferece a rodos, com casas na cidade, nas praias, os automóveis, os iates e tantas atracções com que o mundo engana os desprevenidos porque afastado da Palavra Divina.
Deixam-se enganar com o vazio caduco ao seu alcance e até gente que comunga a Eucaristia como um pão qualquer, esquecendo-se que Ele é a cabeça de um corpo chamado Místico a que pertence ao maior sofredor. O que fizeste a um dos mais pequeninos a Mim o fizeste.
A diferença que todos notamos e o Papa Francisco traz ao cimo das suas encíclicas, contínuas chamadas de atenção. Rematei com São Paulo presente na 2ª leitura da Carta aos Efésios: Eis que vos digo e aconselho em nome do Senhor, não torneis a proceder como os pagãos porque procedem com o seu espírito fútil. Não foi assim que aprendeste a conhecer Cristo se é que d'Ele ouviste pregar e foste instruído por Ele conforme a verdade que existe em Jesus.
Trata-se de abandonar a vida de outrora, não serdes mais o Homem que eras anteriormente, corrompido por desejos enganadores.
Deixai-vos renovar no íntimo do vosso espírito adquirindo hábitos de um Homem Novo, criado à imagem de Deus na Justiça e Santidade Verdadeiras.
Senti a multidão suspensa das palavras que me iam saindo da boca e os olhos cravados no padre de andarilho.
Anunciei que o Glácio de Malanje, mais duas senhoras da comunidade estavam lá fora com o meu livro; Gestos de Misericórdia e que o preço dele era lê-lo. — Ninguém leve o volume se não o irá ler.
Nas cinco homílias vendemos 180 livros e houve gente a dar 50,00€ por cada um.
Na segunda edição de um milhar já só tenho 70 exemplares e em cada livro, metemos um cartão com o antigo NIB do Património, o qual passou a estar desactualizado. Graças a Deus.
Padre Acílio