SETÚBAL
Visita de Gaiatos antigos
O Verão traz-nos as férias e, com elas, a visita dos nossos casados emigrantes. É verdade, uma boa parte dos antigos Gaiatos emigraram. Temos muita gente em França, na Inglaterra, Holanda, Bélgica, Alemanha e Suíça. Só em Londres está uma vintena deles. Não se deixaram vencer pela crise. Habituados ao trabalho, procuraram-no onde ele existia. O interessante é que uns apoiam os outros, de tal maneira que o espírito familiar vivido aqui em Casa, os auxilia a dar a mão uns aos outros.
Agora, são muitos os que querem aqui passar um dia ou dois com as mulheres e os filhos, contarem-nos os seus êxitos e dificuldades, manifestarem a sua gratidão, pedir desculpa dos seus erros e revelar-nos como tantas vezes, a sua família de sangue foi um estorvo e não uma ajuda ao desenvolvimento das suas faculdades.
- Que é do teu pai?
- Sei lá!.. Acho que esteve preso, perdeu a nacionalidade Portuguesa e, agora, encontra-se ilegalmente na Inglaterra.
- Ele que foi um ídolo do desporto, bem te prejudicou -, rematei-lhe.
- É verdade, nem o senhor sabe. Uns deixam ajudas, outros fazem pedidos!
- Ai! A nossa Casa está cada vez mais bonita! - São os olhos dos filhos, manifestando felicidade por encontrar o seu antigo ninho.
- Onde estás não encontras nenhum Gaiato?
- Não, não sei de nenhum nas minhas redondezas.
- É que alguns, são empresários de construção civil e podiam ajudar-te a levantar a tua casa nova!
- É verdade, mas não sei de nenhum, na minha vizinhança, em Montpellier. - Este casou com uma Francesa, filha de emigrantes Espanhóis e já têm duas meninas. Trabalha nos correios de França enquanto a esposa dirige, em segundo lugar, um grande hipermercado Alemão em França.
Normalmente, férias não temos, mas eles trazem-nos o alívio e a alegria que aquelas poderiam proporcionar.
Peditórios
Já o ano passado, deixamos de os fazer. Não que a pobreza nos tenha deixado de apoquentar mas porque as forças diminuem e também deixamos de sentir a alegria dos párocos com a nossa presença nas suas celebrações. Embora sabendo a falta que faz a nossa palavra àqueles cristãos que gozam o descanso e a nós a sensação do estremecimento de consciência que lhes provoca a nossa pregação, deixamos aos párocos a liberdade para o fazerem em vez de nós e colherem eles os frutos para o seu povo e os seus pobres. É verdade que poucos têm o nosso carisma, mas também não é mentira que são raros os que o apreciam.
Tenda
Na Arrábida, os rapazes, com a Mafalda à cabeça, organizaram uma venda dos produtos da nossa Quinta. Pela qualidade natural que os nossos frutos, criados quase só à base de estrume, o seu valor e o seu gosto tornam-se muito apreciados.
O Octávio, o marido da Mafalda, que tem aguentado facilmente a cozinha da Arrábida e, dada a sua capacidade e requinte de cozinheiro, tem feito variados sumos de todas as frutas, de melancias, beterrabas, laranja, melão e doces especiais que têm vendido aos banhistas, fazendo ao mesmo tempo propaganda de toda a doçura da Casa do Gaiato e da sua riqueza!
Eles lá fizeram cartazes, puseram balcão, alinharam mesas e cadeiras e servem a quem se abeira, fazendo algum dinheiro. Também uma forma prática de nos apresentarmos, sem disfarce, ao público que por ali passa e prova o que é bom e saudável.
Padre Acílio