SETÚBAL

Contentor para Moçambique

Não vai ser um grande mas um pequeno. Já paguei 5184,00€ por uma tonelada de atum, quarenta e três sacos de semente de milho para grão e encomendei meia tonelada de salsichas, mais outra meia de chouriço enlatado e, ainda, uma tonelada de leite em pó para alimentação dos rapazes.

O Padre José Maria passou-se para o Céu, mas deixou-nos cá ainda a trabalhar para merecermos, como Ele, a recompensa Divina.

A irmã Quitéria pede, ainda, uma máquina de lavar roupa, claro que se refere a uma industrial. Para uma Casa com tanta gente só assim se podem entender.

O contentor levará também as telas reparadas, os respectivos vidros de protecção, bem acondicionados em três caixotes de madeira para não se danificarem na viagem.

Levará sementes, roupa, material de higiene, calçado e muito tecido que um senhor de Lisboa nos quer oferecer e lá, fará muito jeito para os pobres fazerem roupa, os livros de Português e Matemática com alguns dicionários de Português irão daqui.

O material escolar está a cargo de um amigo que o ano passado, para Malange gastou a comprar directamente em fábricas, dois mil euros sem contar o que lhe deram gratuitamente. Conto com ele para este contentor destinado à nossa Casa de Moçambique.

Até agora chegaram-me somente duas ou três pinguinhas para tanta despesa e a promessa de algumas sementes de Eirol.

Colheitas e Sementeiras

Falta-nos apenas apanhar azeitona que este ano promete, pois as oliveiras estão carregadinhas e, na sua maior parte beneficiaram de rega gota a gota. Esperamos arranjar azeite para alguns meses. Tudo o que é horta como batata branca e doce, feijão seco e verde há muito que fomos colhendo conforme a época, sem nos esquecermos das favas e das ervilhas que foram fartas e estão agora perto de serem semeadas. A couve, o espinafre, os brócolos, a beterraba e os nabos são de quase todo o ano.

A alface vem das nossas amigas alfaceiras. Mulheres sacrificadíssimas que vivem também só daquilo que a terra dá e repartem connosco, nos convidam a ir apanhar ou mesmo só a ir buscar. Gente Cristã no meio de um paganismo dominante. Elas dão por Amor a Deus e ao próximo. São luz que as trevas recusam e a história humana confirma que um homem sem fé, reage normalmente assim: - recusa ver o que para nós é evidente.

A recolha do milho verde para ensilar não pode ser feita pelas nossas máquinas, pois demoraria três ou quatro semanas, gastaria energias precisas para outro trabalho e a silagem é tanto melhor, quanto mais rapidamente for feita.

Temos um senhor, que faz este serviço com uma ceifeira moderna a qual corta quatro carreiras de milho ao mesmo tempo e o coloca moído em atrelados a correr a par, com capacidade de dez toneladas de cada vez. O senhor traz dois atrelados, enquanto um vem descarregar rapidamente, o outro enche acompanhando a ceifeira e continuando alternadamente.

O milho é espalhado nos silos e calcado com a nossa retroescavadora, dando assim vasão ao amontoado das descargas. Um rapaz auxilia espalhando sal sobre cada descarregamento. Quando os silos sobem, então é necessário mais gente para compor o cagulo que este ano subiu muito sobre os três silos, exigindo igualmente outro tractor pesado para acalcar bem.

O nosso milho tem de alimentar o gado o ano inteiro, mesmo quando uma boa parte do penso é azevém. Pois o milho é indispensável para manter o nível da produção leiteira.

A grande azafama que se nos impõe esta quinzena é a sementeira do azevém. Esta leguminosa fermentada nos silos é muito recomendada pela nutrição animal. O ano passado cortámo-la três vezes e no segundo corte enchemos um silo com grande cagulo. A sementeira tem de ser feita rapidamente para aproveitarmos a temperatura alta, a qual tem muita influência no nascimento e progresso do azevém.

Como todas estas actividades, entram na alma dos rapazes, mesmo que não tomem parte nelas!... Contemplam-nas... e assim entram instintivamente no seu interior levando-lhes uma sabedoria natural, mais forte que a especulativa.

Padre Acílio