SETÚBAL

Assana

Por não poder conduzir fisicamente a nossa camioneta fui com este gaiato levar duas camas e uma pequena cómoda àquele casal cuja morada ajudamos a consertar.

Como já têm janelas e porta de entrada, levei-lhes tinta e pedi que, ao menos, pintassem os quartos; comprometendo-me a transportar-lhes as camas ainda naquela tarde.

Assana tirou a carta o ano passado. Agora, frequenta um curso de formação, na Lisnave, e faz o primeiro estágio numa empresa próxima. Vem pelas 17:00 horas e eu programei, sem lhe dizer nada, esta boa acção, contando com a sua generosidade sempre pronta.

Carregamos, em casa, e fomos os dois: ele a conduzir e eu a acompanhar. Chegamos e eu chamei o casal, para connosco descarregar o que já era seu: camas quase novas, colchões impecáveis, mesas-de-cabeceira e a referida cómoda.

Assana prontificou-se logo a montar as camas com o pai de família e sentiu a alegria que inundou todos habitantes daquela morada.

Ao regressarmos, o rapaz agarrado ao volante, dá-me um olhar e fala-me:

— Sepadcilio reparou na alegria das crianças?...

— Das crianças e dos pais... não viste?

— Sim, mas impressionou-me mais as meninas.

Eram duas irmãs de cinco e três anos mais ou menos. Saltavam para cima das camas, os pais repreendiam-nas mas elas não paravam. Pulavam para cima delas e depois, da dos pais e não se cansavam de saltar e rir de alegria! Levantavam as mãozinhas, pulavam e batiam palmas. Ninguém as segurava.

Nunca tinham dormido numa cama! Nem elas, nem os pais.

Aquilo era uma revelação incontida de júbilo infantil. O Assana ficou com ela gravada no coração.

Saiu do estágio. Regressou cansado, mas entendendo a minha impossibilidade, não se negou.

Regressamos a Casa e quis ir celebrar comigo a Sagrada Eucaristia. Os dois, agradecemos ao Senhor tão grande consolação e recebemos ambos os Dons Pascais.

Nada ajuda tanto espiritualmente os rapazes, como ir comigo aos pobres. As alegrias e as dores falam mais alto que as minhas palavras. A eles e a mim!...

Cozinha

Aos fins-de-semana há sempre de serviço à cozinha, uma equipa de dois rapazes, a ajudar e a aprender a confecção das refeições.

Faz-lhes bem. Amanhã, quando forem pais de família, não se atrapalharão e com naturalidade substituirão as esposas, quando forem mães ou arranjarem trabalho a horas desencontradas.

Fazer comida, é sabedoria que todos os rapazes levam de Casa.

Sei mesmo que muitos, já casados, cozinham melhor que as esposas e substituem-nas tanto de roda do fogão como do lava-loiças.

Em vários hotéis e restaurantes mais afamados do mundo civilizado, ou melhor, endinheirado, encontram-se chefes de cozinha que nesta Casa iniciaram a sua carreira e se impuseram sem cursos de hotelaria, mas pelo seu saber em combinar e preferir sabores das comidas mais ricas e mais diversas, os quais desempenham cargos responsáveis das respectivas cozinhas.

Padre Acílio