Setúbal
Banda e Sambinha
Banda
A nossa banda voltou ao activo. Não quer dizer que tenhamos interrompido as aulas de música, a aprendizagem instrumental ou os ensaios colectivos. Não. Houve um certo esmorecimento com a retirada de alguns rapazes pelo tribunal de família e a saída de outros por espontânea vontade própria.
Verifica-se que a nossa banda nunca é definitiva. Há sempre elementos a sair - o que nos causa algum embaraço e pode até acarretar o desânimo, pelo facto de um número dos rapazes ter diminuído. Sem eles, não há banda. Apesar disso, voltámos a actuar e, na opinião do jovem e competente maestro, nunca tão afinadinhos.
Foi em Lisboa numa festa promovida pelo 115 do Lion's Clube de Portugal para entregar o prémio do melhor desenho sobre a paz a nível internacional e a melhor composição escrita sobre o mesmo tema feito pelas crianças das escolas portuguesas. O desenho foi concorrido por crianças de 160 países de todo o mundo. O português mereceu menção honrosa.
O escrito limitado ao País, ganhou o primeiro prémio, sendo o autor um rapazinho de Palmela, de uma escola particular.
A nossa banda com outros números artísticos de algumas escolas de dança da Capital e um consagrado contador de histórias, abrilhantou o evento, sendo muito aplaudida e convidada por outras ocorrências.
Espero que outros rapazes se agarrem ao solfejo para, em breve, tomarem na mão um instrumento que virá dar mais corpo musical ao conjunto.
SAMBINHA
O seu nome é Samba Djedjo. Já a ele me referi pelo seu abandono na alta de Lisboa.
É uma criança de oito anos, de cor negra, olhos ramalhudos e muito meiga.
O pai visitou-o por duas vezes e, na última, almoçou com ele no nosso refeitório. Vive nos arredores da Capital com outros Guineenses na mesma casa porque não ganham o suficiente para terem cada um a sua.
Nas Vésperas do dia do pai, Sambinha trouxe da escola uma pastinha vermelha com o nome "pai" em dourado por fora e dentro um trabalho manual da sua autoria.
Sem dizer nada, entregou-me a sua preciosidade
olhando-me ternamente.
- Mas eu não sou teu pai -, disse sem pensar. - O teu pai esteve contigo há dias.
Arrasei de lágrimas os olhos do Sambinha que me fitou desgostoso. Arrependido acariciei-o logo: - Não sou teu pai, mas faço as vezes dele não é?
- É sim senhor! - Disse ele aliviado.
Na verdade, levo-o e vou buscá-lo muitas vezes à escola. Faço-lhe algumas meiguices e trato-o sempre por Sambinha. Come à minha mesa, junto a mim; e tenho-o ajudado na aprendizagem da leitura.
O menino também se tem agarrado afectivamente à minha pessoa.
Soube-me tão bem aquele "é sim senhor" que me confortou do estremecimento que lhe havia provocado
Padre Acílio