SINAIS

Nem sempre é fácil escrever para «O Gaiato» - «O Gaiato» é grande e exige. Fico com a caneta apontando o vazio. Ele clama e minha caneta é pobre e fica no ar a bailar - tem medo de descer ao papel. É uma luta. - Anda lá, desce. Ela sorri e desce devagarinho.

Como? Não há linhas! É uma ribeira na montanha de Miranda do Corvo. As crianças saltam para a água, riem, gritam e gozam a sério com uma manhã de praia - que vai durar oito dias.

Pai Américo foi às ruas de Coimbra e trouxe-as para esta ribeira: água, brincar, mergulhos e barriguinha cheia! Foi um começo. Não mais as crianças o deixaram: Miranda do Corvo, Paço de Sousa, Lisboa e Setúbal. Todos agarradinhos à sua batina preta. A minha caneta delira. Não quer parar. E aquelas casinhas? São as Casas do Património dos Pobres - outro sonho de Pai Américo. Muitas e muitas por todo o Portugal...

A caneta delira. Não quer parar. É o Calvário - último e grande sonho de Pai Américo: o Calvário - doentes, pobres e incuráveis.

P.e Baptista deu-lhe vida. Casas, avenidas, florestas, casa cheia, rapazes e doentes. Voluntários a servir. Parou para obras. Estão quase no fim.

Vai continuar... No sonho é que vamos. Quem nos pode impedir? A caneta não quer parar. Delira.

Padre Telmo