VINDE VER!

Uma lição de comunhão

No decorrer de uma refeição, em que a família estava reunida à volta do banquete, ao meio-dia, para tomar o caldo, a fim de retemperar as forças fatigadas pelo trabalho e pela fúria abrasadora do calor, apareceu, do lado de fora dos vidrais do refeitório, um homem desconhecido. Um pedinte, identificado mesmo a certa distância. Não levou muito tempo para que deixássemos de o ver. O chefe abriu a porta e foi averiguar a situação. Era tal e qual como se tinha pensado. Deitou-se no chão, cansado de lutar ou de vaguear, pedindo aqui e acolá. A rapaziada não se assusta, está acostumada a deparar-se com semelhantes episódios na pobre trajectória diária da nossa gente.

O Governo, que saiu das eleições de 23 de Agosto deste ano, disse que vai "melhorar o que está bom e corrigir o que está mal". Se assim acontecer, os angolanos terão dias melhores. Mas até lá, espera-se pelo cair das chuvas. Por enquanto, as nuvens carregadas de água passam ao lado, e até fazem deliciar os olhos, mas não há precipitação.

Certo dia, um homem, de muito boa vontade, disse aos seus companheiros que tinha visto algo que os demais só poderiam ver no fim do dia. Pois, chegou a tarde e em seguida outra manhã, e nada surgia. A expectativa alimenta a probabilidade da ocorrência dos fenómenos. E vale o tempo que dura até à sua confirmação ou não confirmação.

Voltando ao peregrino deitado na varanda do nosso refeitório; aguardava-nos, sem o sabermos, uma grande lição de comunhão. Veio, agitado com um prato cheio de comida do nosso tacho, o chefe era o «Pedro João», que acompanha normalmente a casa de 1 de cima e, por ser o seu fim de semana de faxina, tomou a iniciativa: - Vou levar esta comida àquele homem que está ali caído. Deu-se a lição! Recebeu de graça e, agora, de graça dá. E o nosso Deus, que é Bom, recompensá-lo-á em abundância.

Quando, na passagem do Bom Samaritano, este pede ao responsável da estalagem para que cuidassem bem do homem que tinha sido maltratado dizendo: - Trata bem dele e tudo o que gastares eu te pagarei quando regressar -, estava a abrir a porta da generosidade e da gratuídade.

Não há no mundo nenhuma forma melhor de agradecer, se não aquela que retribui a outra pessoa o bem que um dia alguém fez por ela. Não importa quem seja ou quanto custou ou em que lugar foi. O que importa, é a semelhança da acção em benefício do irmão.

Esteve caído e foi ajudado a levantar-se; e hoje, digerindo o Evangelho, dá a resposta ao pedido de Jesus: - Vai e faz o mesmo.

Obrigado «Pedro João» foste grande no serviço.

Aprendamos a lição dos pequeninos. Às vezes, temos de nos despir das vestes de mestres e aprender a lição dos gestos simples, que vêm do coração.

O mundo opulento, que armazena, acumula e, muitas vezes, esbanja, vai-se esquecendo dos mais necessitados. Desperta já, ó mundo adormecido! Abre as tuas portas aos raios de luz, da comunhão, da fraternidade e da solidariedade.

A palavra de conclusão é de Pai Américo, nestes 130 anos do seu nascimento - que grande graça o Pai do Céu nos deu - "Como os passarinhos do céu volitam em cata do biscato para os seus filhos, assim eu. Valem mais os pobres do que os passarinhos".

Padre Quim