VINDE VER!

A semente de hoje

 O novo ano escolar arrancou em todo o País. A nossa escola volta a acolher um grande número de crianças vindas das comunidades vizinhas em busca de preparação escolar. Os pais ou encarregados procuram, para os seus, as escolas que funcionam com alguma qualidade. Os nossos rapazes frequentam a nossa escola desde a primária até ao primeiro Ciclo do Ensino Secundário, e continuam o seu processo escolar nos Institutos do segundo Ciclo na cidade. Vejo os nossos, logo pela manhã, preparados com a bata posta e mochila às costas. Vão alguns em grupo, outros sozinhos. Vão em busca do amanhã sem o saberem. Vão receber a boa sementeira para estimular a inteligência. Vão moldar o comportamento. Vão em busca do progresso. Progredir, é ser gente útil. Progredir, é dizer sim à realização pessoal. A Educação, em Angola, tem, hoje, muitos desafios a enfrentar, num contexto de carência económica e de bens de primeira necessidade.

No início de cada ano lectivo, penso naquelas crianças que ficarão fora do sistema de ensino, por variadíssimas razões. Todas elas infundáveis, comparando com o direito que lhes está consagrado. Penso naquelas crianças que não têm pão e têm de percorrer quilómetros a pé para chegar à escola. Penso naquelas crianças que estão na rua abandonadas e já terminaram a escolaridade mesmo sem nunca a ter começado e preparam-se para aterrorizar a sociedade. E, ainda assim, a criança é o futuro da Nação! Que contradição fria. Penso naqueles pais que regressam com o processo do filho para casa por não ter acesso à 10ª classe. Penso também naqueles adolescentes e jovens que desistem dos seus sonhos, por não acreditarem na possibilidade da sua realização. Chegando mesmo a abandonar a escola por preferirem comportamentos de risco. "Tudo parece impossível até que um dia seja feito", citando Nelson Mandela. Penso ainda no professor que ensina de barriga vazia e mente confusa, por lhe faltar pão em casa, electricidade e outros meios para melhor planificar as aulas. Penso e repenso e... qualquer dia já não penso!

Acredito nos homens e mulheres de boa vontade. O País está numa fase de mudança, o quadro social vai melhorar; então, hei-de escrever, sim, escola para todos e educação de qualidade.

Acredito que os frutos do amanhã se encontram na semente de hoje. A semente tem força, rasga a terra e brota, embora frágil, mas segura. Sobrevive no meio das adversidades e consegue atingir a sua realização. Assim é a criança que vai à escola, muito pelo querer dos pais, mais pelo seu.

No ano passado, tivemos uma boa colheita a nível escolar. Vai ser com o mesmo entusiasmo que vamos pedir o mesmo aos rapazes. Os poucos que reprovaram não tiveram férias junto dos seus parentes.

Na educação há duas palavras muito amigas: prémio para quem trabalhou e castigo para quem já teve férias em tempo que deveria estar a trabalhar.

E quem não quiser aplicar este método enquanto educador, desincentiva aquele que se esforça por buscar sempre mais. Se a criança não for repreendida pelo seu mau comportamento, ela crescerá pensando que não existem regras na sociedade.

A conclusão é de Pai Américo, "ninguém pergunta como se faz: faz-se".

Padre Quim