VINDE VER!

Reunidos em assembleia

Foi a convite da Direcção da nossa Escola, que nos fizemos presentes na magna reunião de pais e encarregados de educação, que se realizou no nosso salão multiusos. O espaço foi pequeno para tanta gente que veio das comunidades vizinhas.

O quadro antropogeográfico era este: gente sentada, gente de pé, gente no interior do salão, e gente agarrada às grades das varandas laterais. Todos unidos pelo mesmo objectivo: educação de qualidade, ensino de estratégias de aprendizagem, e aprendizagens significativas. Não a educação "bancária", sim ao processo de ensino-aprendizagem construtivista, humanista e responsável. "Educação como prática de liberdade" no dizer de Paulo Freire. Não ao ensino de reprodução de fórmulas e sistemas feitos, sim ao ensino de técnicas para criar, inventar e produzir novo saber.

O desenvolvimento das famílias, das comunidades mais abrangentes, da própria Nação está dependente da qualidade da educação dos seus membros ou associados. Na base da construção dos actores sociais de todos os sectores da administração pública, encontra-se o professor. É este profissional que segura a escada para que outros, de diversas áreas, possam subir. A sociedade pouco reconhece o professor. O senhor Ministro esquece-se de que foi por ter passado por vários professores que hoje tem esse posto de destaque. Durante a reunião, o senhor director da escola informou que um dos professores, no dia anterior à reunião, teve de fugir ao apedrejamento quando se dirigia para a sua casa e que o mesmo tem recebido constantes ameaças da parte de alguns pais e encarregados dos alunos da nossa escola. Oh!, gente que só teme canhões, e homens fardados, aprende a respeitar o educador! O desenvolvimento não se faz com espingardas, faz-se com saber, saber: conhecimento, informação qualificada; saber ser e estar: convivência saudável na diversidade de saberes e informações, saber fazer: profissionalismo, ética e rigor, no campo de acção em favor da comunidade humana.

Em pouco tempo de aulas, quase dois meses, e a escola já convive com situações que preocupam e atrapalham o projecto educativo. A escola não tem um gabinete de psicologia para apoiar a educação e os seus intervenientes. A situação é generalizada, não se conhece escola alguma que tenha os serviços de intervenção psicológica a funcionar em prol do sistema de Educação ensino-aprendizagem. E os problemas da educação estão à vista, se os relatórios forem fiéis à realidade das nossas escolas. Faltam professores, a direcção contratou colaboradores, e a comunidade vai comparticipar do pagamento das despesas. Muitas famílias estão desempregadas ou com um salário só para acender o lume e fazer o caldo.

A procura é grande e as condições físicas para a integração de mais crianças são precárias. Duas turmas são constituídas debaixo das árvores para não perderem o ano escolar, pois as oito salas que temos são insuficientes para tantas crianças. Se ao menos das migalhas que sobram da mesa dos grandes, caísse para a boca dos pequenos alguma coisa, talvez..., esta e outras situações da vida dos pobres tivessem um rumo diferente. Continuamos de mãos dadas, e com a porta sempre aberta. A cultura da solidariedade já nasceu, vai crescer, seus ramos vão bater à tua porta, deixe-a entrar e frutificar. Então, verás quanta alegria e paz há quando o coração é grande para os pobres. A conclusão é de Pai Américo, "É a gratidão estuante de quem se não cansa de dizer bem dos homens-bons do País aonde tem chegado a fama e o nome da Obra da Rua, suscitando donativos generosos".

Padre Quim