VINDE VER
Sementeira para boa colheita
No mundo em que vivemos - baralhado pela astúcia dos homens que promovem eras de crise, aproveitando-se da ocasião para enriquecerem, explorando os mais fracos -, o pobre é uma carta fora do baralho, não é contemplado nas decisões da vida do País. Serve de utilidade à máquina opressora, no ano de eleições, como depositante do voto nas urnas. À criança abandonada, nem pão, nem escola. Possível delinquente criado à margem da sociedade, na escola da maior perdição que existe: a rua. Lugar onde, ao aprender, mal, a conjugar o verbo roubar, no futuro a espera a cadeia. As dificuldades que atravessam as pessoas abandonadas, são chocantes ao princípio de que toda a pessoa tem direito de viver com dignidade e de ser respeitada. Todos os dias recebemos pessoas que desejam ter um lugar na nossa Casa. Aposto que, hoje, em Angola, nem que tivéssemos em cada município uma Casa do Gaiato, ainda teríamos crianças de rua, e na rua. As dificuldades que atravessam as famílias, acabam por fazer das crianças vítimas do abandono.
O ser humano é dotado de inteligência, liberdade e criatividade, e pode ultrapassar as dificuldades que lhe roubam a paz. A luta pela subsistência impõe-se, temos um campo enorme e fértil para a produção agrícola. O espaço geográfico da nossa Aldeia o indica, todo o Vale do Cavaco é assim. A semente lançada à terra germina, cresce, floresce e se encaminha para o seu fim - dar fruto no tempo da colheita. Os Rapazes gostam mais de ir apanhar o que está maduro no terreno. A primeira fase do trabalho, não a apreciam tanto, porque exige sacrifício e dedicação: estas duas palavras não se encaixam com facilidade no vocabulário da nova geração. A era digital é responsável pela criação de uma cultura que promove meninos e meninas com diplomas na mão e que passam fome porque se recusam a realizar trabalhos humildes, como pegar numa enxada para preparar a terra, semear, regar, cuidar até à abundante colheita. A agricultura é a fonte de subsistência mais segura para as famílias, é o caminho para sair da miséria.
A ilusão de uma riqueza dependente do petróleo, vai em sentido descendente. É em tempos de crise que se pode realizar o que não foi feito em tempos de bonança. As dificuldades são maiores e, por assim se constituírem, podem despertar uma corrente de maior solidariedade entre as pessoas, se tivermos em conta que, "a dor e o sofrimento tornam as pessoas mais unidas"; nesta fase, para podermos colher com abundância o que semearmos, gostaríamos de começar a levantar o nosso muro para defender o que temos em Casa. Um bloco, dois, três blocos, mais pedras e mais cimento, eu acredito. Os furos de água necessitam de uma profundidade de quase cinquenta metros, só estão a trinta e a água assim é salgada como a do mar, não dá para muito. São as nossas rosas, nunca sem espinhos! A conclusão é de Pai Américo; "a criança na nossa Casa é feliz, a colher os saudáveis frutos de uma vida que jamais conheceram".